quinta-feira, 9 de junho de 2016

Frio combina com...

Palavras pelo ar

            Eu abri meu coração para ele. Sim, falei de todos os dragões que habitavam minha mente, e das florestas imensas que povoavam meus medos. Repeti inúmeras vezes do medo da solidão e da curiosidade da companhia. Desejei em diversos ângulos beijar sua boca e morder seus lábios.
            Insisti instavelmente na teoria de um universo melhor, e nas verdades inseguras de minhas razões. Admirei cada palmo de seu corpo e perdi-me em seus cabelos. Apostei nos cavalos errados e não participei da rodada da sorte.
            Vendi diversos sonhos pelas esquinas, despejando minha coerência entre linhas frias e mecânicas. Falei do erro dos certos e dos acertos dos errados. Vesti-me de rainha entre plebeus e joguei a chave fora de meu castelo de julgamentos.
            Olhei inúmeras vezes seus olhos em fotografias. Senti diversos pensamentos e sensações solitárias ao achar-me acompanhada de suas memórias. Mas era tudo concretamente vago, líquido e desvairava-se entre os dedos. O silêncio do retorno dele e as dúvidas atordoavam meus sentimentos.
            Falei de todas as cores de meus planos e das monocromáticas desilusões. Citei os obstáculos que passei e aqueles que desisti de enfrentar. Falei tantas palavras soltas e interligadas que desgastei a mudez de minha voz. Imaginei diversas cenas de amor e negligenciei-as em julgamentos duros.

            A única marca imutável foi a presença dele a cada palavra pelo ar, que voaram, voaram, subiram e dissiparam-se pelo espaço, em acordes ruidosos e atonais do luto por algo que não nasceu.


Nenhum comentário:

Postar um comentário