Palavras pelo ar
Eu abri meu coração para ele. Sim,
falei de todos os dragões que habitavam minha mente, e das florestas imensas
que povoavam meus medos. Repeti inúmeras vezes do medo da solidão e da
curiosidade da companhia. Desejei em diversos ângulos beijar sua boca e morder
seus lábios.
Insisti instavelmente na teoria de
um universo melhor, e nas verdades inseguras de minhas razões. Admirei cada
palmo de seu corpo e perdi-me em seus cabelos. Apostei nos cavalos errados e
não participei da rodada da sorte.
Vendi diversos sonhos pelas
esquinas, despejando minha coerência entre linhas frias e mecânicas. Falei do
erro dos certos e dos acertos dos errados. Vesti-me de rainha entre plebeus e
joguei a chave fora de meu castelo de julgamentos.
Olhei inúmeras vezes seus olhos em
fotografias. Senti diversos pensamentos e sensações solitárias ao achar-me
acompanhada de suas memórias. Mas era tudo concretamente vago, líquido e
desvairava-se entre os dedos. O silêncio do retorno dele e as dúvidas
atordoavam meus sentimentos.
Falei de todas as cores de meus
planos e das monocromáticas desilusões. Citei os obstáculos que passei e
aqueles que desisti de enfrentar. Falei tantas palavras soltas e interligadas
que desgastei a mudez de minha voz. Imaginei diversas cenas de amor e
negligenciei-as em julgamentos duros.
A única marca imutável foi a
presença dele a cada palavra pelo ar, que voaram, voaram, subiram e
dissiparam-se pelo espaço, em acordes ruidosos e atonais do luto por algo que
não nasceu.
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