Num
dia de sol, bem no meio da avenida, o mundo parou para Tom.
Tom tornou-se estático no meio de
uma avenida. Paralisado de braços abertos, abraçava fumaça e sirenes, buzinas e
conversas.
Passava a luz do dia, a luz da
noite, os relógios febris giravam seus ponteiros, sem cessar, nunca. Tom, de
braços abertos no centro da avenida, também não cansava. Parado lá, sem chamar
atenção daquela cidade tão presa em sua rotina, continuava na sua posição ereta,
numa mistura entre Cristo e Lúcifer.
Passados dois anos e, no topo de um
prédio, uma menina debruçou-se no oitavo andar a observar o homem. Ela, com
seus olhos quentes, observava Tom paralisado, dia e noite, sem parar. Pouco a
pouco seus lábios se esticaram e seus dentes foram expostos. O homem, vendo que
era observado pela menina, sorriu, como se a conhecesse há anos.
E mais dois anos se passaram, e um
terceiro indivíduo juntou-se à paisagem: uma senhora sentada na cadeira de
balanço, sem se mover. E ela observava o homem no centro da avenida, que
observava a garota que o observava, num círculo imperfeito, que não afetava a
rotina da cidade.
E chovia. Chovia como a muito não
fazia na cidade, e, lentamente a água começou a cobrir o homem parado no centro
da avenida, e também a senhora sentada na cadeira de balanço.
E eles não se moviam, enquanto eram
consumidos pela água da chuva e a água escorria dos olhos da menina parada no
oitavo andar do prédio.
Quando o homem ficou totalmente
submerso, e a senhora também. A menina continuou observando o local onde Tom
permanecia, mesmo que escondido pelas águas.
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