quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Eeeeeeaí gente, conhecem esse cara aí?


             Até gostaria de brincar com a atualidade se seus traços, mas barba está na moda, então ficamos com seu nome apenas: o terror dos jovens, a paixão das professoras de Literatura, o carinha que mora no albergue da cidade: JOSÉ DE ALENCAR!

               Sim, o autor de Iracema, O Guarani, Lucíola, Cinco Minutos, O Tronco do Ipê, O Sertanejo e tantos outros clássicos que a maioria das pessoas não gosta de ler. Mas, por que isso? A resposta é simples:

               “Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se. Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo. Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido. De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada; mas logo sorriu.” Iracema.

               Rumor? Fofoca?, sesta não seria com x?, Ignotas? AHHHHHHHHHHHHHH!
            A culpa está na linguagem, que mudou muito desde o século XIX, obviamente. Se a obra fosse traduzida seria bem mais interessante, por entenderíamos. Porém, isso não significa que essa deveria ser assim: 
          
        Tinha uma novinha no mato tranquila, até que ouviu um barulho estranho e, olhando, viu que era um cara branquelo de olhos azuis na maior bad. O menor tinha umas armas e style estranho. Daí a novinha mandou ver uma flecha no cara e deu ruim.

         Outro trecho:
      
         Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba; Verdes mares que brilhais como líquida esmeralda aos raios do Sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros. Serenai verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas. Onde vai a afouta jangada, que deixa rápida a costa cearense, aberta ao fresco terral a grande vela? Onde vai como branca alcíone buscando o rochedo pátrio nas solidões do oceano? Três entes respiram sobre o frágil lenho que vai singrando veloce, mar em fora; Um jovem guerreiro cuja tez branca não cora o sangue americano; uma criança e um rafeiro que viram a luz no berço das florestas, e brincam irmãos, filhos ambos da mesma terra selvagem. A lufada intermitente traz da praia um eco vibrante, que ressoa entre o marulho das vagas:
       — Iracema!…

       Numa praia maneira, com barulho de pássaros, mar limpo e praia com coqueiros, no Ceará, um cara branco.... (bugou)..... Iracema!

       Dizem os estudiosos mais fervorosos que traduzir obras clássicas tira a qualidade poética da mesma. Mas, de que adianta a poesia sem o leitor? Claro, as traduções acima tiram qualquer beleza, mas, por que não facilitar um pouquinho a vida de nós, leitores?
       Pior que tudo isso é quando você aceita o desafio de ler o José de Alencar e, ao buscar no dicionário certas palavras, não as encontra! O quê?! Nem no dicionário!?

        Acredito que mexer um pouquinho em alguns léxicos e termos muito 'ignóbios' de nosso tempo não deixaria o homem brabo. Qualquer coisa, por que não atualizar seus livros por meio de sessões mediúnicas? Aí ele poderia palpitar sobre as modificações.
       Ou senão podemos pegar todas essas palavras velhas e começar a ensinar por povão, assim preparando-os/nos para essas leituras enigmáticas. Seria interessante se, por exemplo, malandramente, fosse assim:

       Indolentemente
       A moçoila insipiente
       Inplicou-se com a turba
       Para permitir-se lograr

      Indolentemente
      Fez feições de tíbio
      Implicada com a plebe
      Iniciou a incutir avidez

      Ai libertina
     No momento de realizar o coito....

     Lindo né?   Tudo de cultura para vocês, queridos e queridas!

Nenhum comentário:

Postar um comentário