No Brasil temos uma legislação que não
contempla a prisão perpétua. Na verdade, esta é uma discussão muito polêmica da
atualidade. Tem cada pessoa que comete crimes horríveis, e cumprem uma breve
pena para depois continuarem suas vidas normalmente, mesmo tendo tirado a de
alguém para sempre.
Eu sou a favor da prisão perpétua.
Existem casos que são inafiançáveis. E não escrevo somente daqueles crimes brutais,
mas de algo que todos nós sofremos.
Deveria existir prisão perpétua para a
pressa. Sim, na alta velocidade que as nossas vidas são guiadas, entramos em
nossos carros, fizemos um caminho mecânico até o trabalho, retornamos dele
cansados e dormimos, recomeçando a rotina no próximo dia.
Nesta pressa concretada na existência,
não olhamos para os lados, e perdemos cada coisa... Há quem não viu aquela
criança dando um beijo em sua mãe. Não vimos quando a namorada perdoou o
namorado, e recebeu dele rosas vermelhas. Não deu tempo para presenciar o raio
de sol esquentando as mãos do varredor de rua, bem cedinho nas calçadas, muito
menos aquela menina feliz, pois os pais separados almoçarão, ambos, com ela.
Pior quando não vemos fatos da própria
vida. Não pudemos ir ao aniversário de nossos irmãos, nem participarmos daquela
janta que reuniu toda a família (talvez pela última vez). Por que não abraçamos
mais nossos pais, quando ver eles todos os dias era mais uma rotina? Quantos
“eu te amo” engolidos junto com a água da pressa e a falsa ilusão que tudo
duraria para sempre.
Mas podemos ser felizes nas férias. Mas
nessa época, nem se fala... Médicos para ir, compras para fazer, passeios para
realizar. Quem se lembra de parar e respirar (você deve estar pensando: que bobagem
respirar, eu faço isso todo o tempo), sentir o cheiro do verde, das águas, dos
perfumes que se misturam. Respirar.
Ah, mas talvez não seja culpa da pressa,
mas da falta de tempo. Será que se o dia tivesse trinta horas seria mais
aproveitado? E se, acontecendo isso, o governo aumentasse a carga horária
semanal dos trabalhadores, ou passássemos mais tempo dormindo... Dormindo por
longas horas, dormindo para a vida lá fora.
De qualquer forma, o tempo também é o
nosso vilão. Ocupamos nosso tempo comprando, trabalhando, dormindo, assistindo
a vida dos outros na televisão, lendo sobre a vida alheia nos jornais,
trabalhando, comprando, pagando, dormindo. Sem ressentimentos com o relógio,
pobre injustiçado, apenas torna claro o que fazemos de nossos dias.
Outro elemento muito maligno é a noção
de eternidade. Deveriam ter nos ensinado que nada dura para sempre. Quem sabe,
desse jeito, ninguém mais dissesse “amanhã eu vou lá dizer que a amo”, “amanhã
eu prometo que lhe visito”, “amanhã eu verei meus avós”...
Mas não existe prisão perpétua para
esses inimigos da nossa vida. E a luta para nos mantermos longe deles é tão
difícil, tão dura... Infelizmente a pressa para terminar esta crônica e viver o
que o mundo tem para oferecer, abraçar meus pais e dizer que eu os amo, como
nunca tive “tempo” para fazer é muito grande, preciso finalizar. Sorte daqueles
que possuem mais que fotos para dizer o que guardam no coração... Na próxima
crônica conversamos mais sobre a prisão perpétua.