terça-feira, 13 de setembro de 2016

Eeeeeeeeeeeeeaí gente faceira? Hoje vou postar algo mais intimista, e também louco, sobre água. Boa leitura:

Águas….

Os passos marcando a areia
o vento ventando em seu rosto
e ele queria a água
seguindo a água do rio: oceano

Água em seus pés e seus olhos
Cada vez mais próximo: mar
Cada vez mais real: areia
Cada vez mais perto: mar
Cada vez mais na retina: nascimento

Os passos marcando as ondas
o vento beijando seu rosto
Cada vez mais real: liberdade
Cada vez mais o rio ao oceano.


  
Águas
            Num dia de sol, bem no meio da avenida, o mundo parou para Tom.
            Tom tornou-se estático no meio de uma avenida. Paralisado de braços abertos, abraçava fumaça e sirenes, buzinas e conversas.
            Passava a luz do dia, a luz da noite, os relógios febris giravam seus ponteiros, sem cessar, nunca. Tom, de braços abertos no centro da avenida, também não cansava. Parado lá, sem chamar atenção daquela cidade tão presa em sua rotina, continuava na sua posição ereta, numa mistura entre Cristo e Lúcifer.
            Passados dois anos e, no topo de um prédio, uma menina debruçou-se no oitavo andar a observar o homem. Ela, com seus olhos quentes, observava Tom paralisado, dia e noite, sem parar. Pouco a pouco seus lábios se esticaram e seus dentes foram expostos. O homem, vendo que era observado pela menina, sorriu, como se a conhecesse há anos.
            E mais dois anos se passaram, e um terceiro indivíduo juntou-se à paisagem: uma senhora sentada na cadeira de balanço, sem se mover. E ela observava o homem no centro da avenida, que observava a garota que o observava, num círculo imperfeito, que não afetava a rotina da cidade.
            E chovia. Chovia como a muito não fazia na cidade, e, lentamente a água começou a cobrir o homem parado no centro da avenida, e também a senhora sentada na cadeira de balanço.
            E eles não se moviam, enquanto eram consumidos pela água da chuva e a água escorria dos olhos da menina parada no oitavo andar do prédio.

            Quando o homem ficou totalmente submerso, e a senhora também. A menina continuou observando o local onde Tom permanecia, mesmo que escondido pelas águas.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Eeeeeeaí gente, conhecem esse cara aí?


             Até gostaria de brincar com a atualidade se seus traços, mas barba está na moda, então ficamos com seu nome apenas: o terror dos jovens, a paixão das professoras de Literatura, o carinha que mora no albergue da cidade: JOSÉ DE ALENCAR!

               Sim, o autor de Iracema, O Guarani, Lucíola, Cinco Minutos, O Tronco do Ipê, O Sertanejo e tantos outros clássicos que a maioria das pessoas não gosta de ler. Mas, por que isso? A resposta é simples:

               “Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se. Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo. Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido. De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada; mas logo sorriu.” Iracema.

               Rumor? Fofoca?, sesta não seria com x?, Ignotas? AHHHHHHHHHHHHHH!
            A culpa está na linguagem, que mudou muito desde o século XIX, obviamente. Se a obra fosse traduzida seria bem mais interessante, por entenderíamos. Porém, isso não significa que essa deveria ser assim: 
          
        Tinha uma novinha no mato tranquila, até que ouviu um barulho estranho e, olhando, viu que era um cara branquelo de olhos azuis na maior bad. O menor tinha umas armas e style estranho. Daí a novinha mandou ver uma flecha no cara e deu ruim.

         Outro trecho:
      
         Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba; Verdes mares que brilhais como líquida esmeralda aos raios do Sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros. Serenai verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas. Onde vai a afouta jangada, que deixa rápida a costa cearense, aberta ao fresco terral a grande vela? Onde vai como branca alcíone buscando o rochedo pátrio nas solidões do oceano? Três entes respiram sobre o frágil lenho que vai singrando veloce, mar em fora; Um jovem guerreiro cuja tez branca não cora o sangue americano; uma criança e um rafeiro que viram a luz no berço das florestas, e brincam irmãos, filhos ambos da mesma terra selvagem. A lufada intermitente traz da praia um eco vibrante, que ressoa entre o marulho das vagas:
       — Iracema!…

       Numa praia maneira, com barulho de pássaros, mar limpo e praia com coqueiros, no Ceará, um cara branco.... (bugou)..... Iracema!

       Dizem os estudiosos mais fervorosos que traduzir obras clássicas tira a qualidade poética da mesma. Mas, de que adianta a poesia sem o leitor? Claro, as traduções acima tiram qualquer beleza, mas, por que não facilitar um pouquinho a vida de nós, leitores?
       Pior que tudo isso é quando você aceita o desafio de ler o José de Alencar e, ao buscar no dicionário certas palavras, não as encontra! O quê?! Nem no dicionário!?

        Acredito que mexer um pouquinho em alguns léxicos e termos muito 'ignóbios' de nosso tempo não deixaria o homem brabo. Qualquer coisa, por que não atualizar seus livros por meio de sessões mediúnicas? Aí ele poderia palpitar sobre as modificações.
       Ou senão podemos pegar todas essas palavras velhas e começar a ensinar por povão, assim preparando-os/nos para essas leituras enigmáticas. Seria interessante se, por exemplo, malandramente, fosse assim:

       Indolentemente
       A moçoila insipiente
       Inplicou-se com a turba
       Para permitir-se lograr

      Indolentemente
      Fez feições de tíbio
      Implicada com a plebe
      Iniciou a incutir avidez

      Ai libertina
     No momento de realizar o coito....

     Lindo né?   Tudo de cultura para vocês, queridos e queridas!